Em Belém, onde Jesus nasceu
apenas 35% são cristãos.
No último
século, proporção de pessoas que professam o cristianismo no Oriente Médio
recuou de 20% para 3%. Crescimento da perseguição religiosa na esteira da
Primavera Árabe acelerou o fluxo de saída da região
Os cristãos não estão imigrando
voluntariamente. Estão sendo coagidos por ameaças e intimidação - informa
Naguib Gabriell, diretor da União Egípcia de Organizações de Direitos
Humanos (Euhro).
|
A tendência se torna cada vez mais visível. Desde o ano 2000, por
exemplo, mais de 1,5 milhão de cristãos deixaram o Oriente Médio. E os dados
mais recentes dão conta de que o ritmo do exílio - forçado ou não - se acelerou
ainda mais com a Primavera Árabe, a onda de revoltas populares contra regimes
ditatoriais que sacode a região desde dezembro de 2010, dando origem a tumultos
em países como Egito, Tunísia e Iêmen e a uma guerra civil na Síria.
No Egito, onde 10% da população de 80 milhões são cristãos, o êxodo é
latente. Só em 2011, pelo menos 100 mil cristãos deixaram o país, temendo que a
queda do ditador Hosni Mubarak levasse a uma maior influência dos radicais
islâmicos, o que se concretizou com a vitória de Muhammad Mursi, ligado à
Irmandade Muçulmana, nas eleições presidenciais de meados de 2012. Desde a
queda de Mubarak, cresceu o número de ataques aos cristãos coptas, com
incêndios a igrejas e assassinatos de líderes.
A fuga cristã é uma realidade também em outros países. No Líbano, os
cristãos - principalmente os maronitas - eram maioria (75%) na época da
independência do país, em 1943. Hoje, são apenas um terço da população (35%).
Na Síria, os cristãos (10% da população) são grande parte dos refugiados
que fogem do país com destino à Jordânia, à Turquia e ao Líbano. Eles são
identificados pelos oposicionistas com o governo do presidente Bashar al-Assad.
Não há números oficiais, mas ONGs de direitos humanos acreditam que pelo menos
5% dos 2 milhões de cristãos do país já tenham deixado a Síria. Preocupado, o
patriarca maronita do Líbano, Beshara al-Rai, afirmou que há forças que estão
aproveitando a guerra civil síria para fomentar o conflito regional entre
muçulmanos xiitas e sunitas.
Na Terra Santa, a situação, agravada pela tensão entre israelenses e
palestinos dos últimos 60 anos, também preocupa a liderança cristã. Os cristãos
eram maioria até a virada do século X na região que engloba, hoje, Israel e os
territórios palestinos. Mas eles foram perdendo gradualmente lugar para
muçulmanos no milênio seguinte. O começo da imigração judaica, há 150 anos, e a
criação do Estado de Israel, em 1948, acentuaram a tendência.
Um dos maiores exemplos é Belém, cidade onde, segundo a tradição
religiosa, Jesus nasceu. Há apenas 20 anos, 80% dos moradores da cidade eram
cristãos. Hoje, são menos de 35%. Na cidade sagrada de Jerusalém, onde Jesus
foi crucificado e ressuscitou, os cristãos se reduzem a apenas 2%. Eram muito
mais (20%), há seis décadas. Outro agravante é a disputa interna entre as
diversas vertentes cristãs, que brigam entre si pelo controle dos locais
sagrados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário